segunda-feira, 8 de outubro de 2007

CALÇA DE PIJAMA

No quarto,
um lindo relógio.
Lindo para enfatizar a beleza do tempo. Para disfarçar sua ação sobre os mortais.
Muitas fotos na parede em frente a cama. Fotos do cotidiano daquela família. Tanta alegria emoldurada em prata, estilo elizabetano.
Um papel de parede palha, com motivos florais.Folhas verdes e flores azuis, quase violetas.
No lado direito da cama, uma janela, quadriculada, de vidros foscos, esmaltada em branco. Um que de higiene.
A cama... de solteiro. Apenas um travesseiro, alguams almofadas quadradas, com o mesmo motivo do papel de parede e um criado mudo. Uma Bíbliae um terço.
Sobre a cabeceira da cama uma cruz, de ferro, trabalhada num tom envelhecido.
No chão sobre um tapete macio, a calça de um pijama, jogada ao acaso. Aguardando alguém para recolhe-la e verificar se será reutilizada ou não. Isto depende do que sonhou noite passada.
Se não descrevo a porta pe porque não há nenhuma.
Sobre a cama há um gato. Um gato muito bem cuidado, lavado, alimentado.Predestinado a ser de estimação. Desses gatos que conhecem pet-shops, que conhecem apenas o dono, a instituição dos animais domesticados.
Olhando de cima parece um ponto cinzana cama. Uma mancha, estático, imóvel. Um gato empalhado.
Um gato empalhado, tem olhos de vidro, negros os dele, para não transparecera cor da palha que o preenche.
Um gato vazio. Cheio de palha.
Vejá! Ela decorou o quarto no mesmo tom da palha do gato. Detalhes querido, detalhes...
E mesmo com a janela cerrada, há uma corrente de ar.
Se observar bem, vera que esta corrente inside diretamente no gato, sobre a cama. Mexe seu sedoso pelo escovado.
Ele se espreguiça, alonga-se, banha-se como todo felino que se preza. Seduz qualquer ser que o note.
É o que os felinos sabem fazer de melhor, seduzir.
Mas o gato não mia. Não há som no quarto a não ser o do relógio.
Para miar é preciso pulmões. Ele não tem... Mas teve. E se eu enche-lo de ar?
Vou pegar o gato, abraça-lo... e então a palha se contrairá e quando soltá-lo o ar será sugado pelas narinas. Ele terá ar dentro dele. E poderá falar. Não sei se propriamente dizendo irá miar, mas soltará um som.
O som de palha. Palavras empalhadas! É issop que ouço, palavras empalhadas, mortas. Por que matam assim? Por que empalham ? Por que estimam tanto e se adonam da vida?
E se o ar estiver úmido? Logo, logo criará fungos e bactérias, dentro do gato. Deve ser por isso que sempre lembram-no de lavar guarda-chuva em dia nublado.Fungos e bactérias na palha. O gato voltará a ter vida. Fungos e bactérias apodreceram a palha e haverá mais espaço dentro do gato, espaço parta haver mais ar.
Quanto mais ar tiver, mais poderá miar, quem sabe ate rugir. Aí deixará de ser gato, será um outro felino. O rugido amedronta as pessoas. Talvez espante sua dona.
se ele deixar de ser um gato, e virar um outro felino, um felino grande, não vai mais viver no quarto. Porque pela lei é normal que felinos maiores não vivam em quartos, muito menos em cima de camas.
E o gato agora pra mim ja é felino, porque sabe ouvir pensamentos. Ouviu tudo. E pulou a janela, levando consigo, na boca a calça de pijama.
Creio que houve sonhos, na noite passada.

Nenhum comentário: