segunda-feira, 9 de junho de 2008

Tempestade


Ontem...
Ontem teve tempestade.
Uma tormenta que começou do nada, como todas as catástrofes acontecem.
Mais para quem ouve e vê os sinais, para quem estuda a natureza cuidadosamente, há tempos que ela esta se manifestando.
As vezes ocupado com meus afazeres no campo, sentia um vento frio, que cortava meu peito, mesmo quando os dias eram quentes e o sol cegava meus olhos e queimava minha pele. Mas eu não me atentei as noticias que o vento me trazia.
As vezes, antes do ontem, não percebi que faziam semanas que não havia luar... Que a lua cheia não mais reflectia no lago.Esqueci de ouvir que o pomar não mais tinha o barulho dos bem-te-vis e de outros pássaros que habitavam antes o meu ouvido.
Até a grama em volta da casa estava ficando seca, e há tempos não cuidava nem plantava nada no jardim. E os cupinzeiros aumentavam pelo campo...
Mesmo com todos esses avisos, eu não notei que algo se avolumava e que estava prestes a transbordar.
Mais eu via! Via minha casa que antes de ontem era um palácio e que aos poucos antes mesmo da tempestade tornara-se um casebre abandonado.
Eu quase perdi tudo na tempestade.
De repente em questão de horas, tudo era apenas vento que ecoava dos montes, dos vales, dos abismos, do mar, sons de desespero e água, que levava tudo. Que arrastava tudo aquilo que tanto tempo tinha nascido ali. Tudo estava tão frágil, tão despreparado para aquela tempestade.
O lago transbordou e a correnteza levou muitas coisas.
O vento quebrou minhas janelas, os cacos voavam casa adentro. Me feriram. O vento arrastou tudo. Tirou tudo do lugar. Levou tudo o que tinha até então proteção de quatro paredes.
O teto foi arrancado. As telhas destruíram parte da colheita, encheram a estrada de entulho. Choveu muito.
Todo o chão, toda a casa ficou inundada. Vi cartas minhas, vi objetos que guardava com tanto carinho boiando pelos comodos. Tudo estava de repente encharcado e frio.
O céu ficou tão chumbo. Eu fiquei tão chumbo. Não havia um candeeiro para iluminar ou aquecer naquele momento. Tudo estava escuro e frio.
A água escorria pela parede e arrastava os quadros, quebrava as molduras, manchava as fotografias.
Como é desesperador ver que tudo esta sendo perdido. Que toda a sua história esta sendo levada violentamente pela água e pelo vento.
O mais triste para um homem é ser abandonado pela história que ele escreveu. Pela vida que ele sonhou em construir somente para ele.
No céu que tem tantas estrelas, que tem a brisa que mexe as cortinas, que manda água nos vidros fazendo aquarelas pelas veneziana...
Mas hoje a tempestade acabou. estou limpando e arrumando novamente meu casebre. Ele vai virar um palácio novamente e estarei mais atento aos sinais, para não sofrer mais tantas reverias do tempo.Vou tentar viver com a natureza e cuidar para que não amis destrua minha casa.

2 comentários:

:: Daniel :: disse...

Como já escreveu Guimarães Rosa: "Eu moro depois das tempestades".

:: Daniel :: disse...
Este comentário foi removido pelo autor.